Incorporação de entulho em obra

Artigo de Eduardo Straub, engenheiro civil e proprietário da Straub, empresa que presta consultoria em sustentabilidade para Greenbuildings e toda a cadeia da construção civil

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Erroneamente, muitas empresas ligadas à construção civil ainda veem a esfera ambiental da sustentabilidade apenas como custo, quando, na verdade, uma ação ou ideia “verde” bem planejada e desenvolvida desde antes do início das atividades pode trazer economia além de melhorar a imagem da empresa junto aos seus stakeholders.

Uma dessas ações verdes que traz benefícios ao empreendimento é a correta gestão dos resíduos. Seguindo a resolução federal 307/2002 expedida pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, os geradores de resíduos da construção civil devem ser responsáveis pelos resíduos das atividades de construção, reforma, reparos e demolições de estruturas e estradas, bem como por aqueles resultantes da remoção de vegetação e escavação de solos. Tais resíduos são classificados nessa resolução como A, B, C ou D. Os resíduos dentro da Classe A são aqueles reutilizáveis ou recicláveis como agregados, a Classe B representa os resíduos recicláveis para outras destinações, já as Classes C e D representam, respectivamente, resíduos que ainda não tiveram desenvolvidas tecnologias que permitam sua reciclagem e resíduos considerados perigosos.

Mesmo com tal resolução em vigor, ainda é comum que os resíduos classificados como A e B, desde que não gerem receita direta para a obra como o resíduo de sucata devido a sua fácil comercialização, sejam descartados em aterros. Uma caçamba de 4m3 de entulho, material classificado como A, custa em média R$380,00 se descartada em aterro contra R$300,00 se enviada para reciclagem. Esses R$80,00 de diferença é a taxa cobrada pelos aterros, cada vez mais caros e escassos.

Um pouco além da legislação, uma ação “verde” que pode beneficiar o empreendimento quanto ao descarte do entulho é justamente não descartá-lo, mas incorporá-lo na obra como bica corrida, estabilização do solo, fechamento de valas, sub-base para pavimentação de vias, entre outros. Essa boa prática é favorável às três esferas da sustentabilidade: econômica, social e ambiental. Econômica porque não haverá o descarte do resíduo, social porque haverá necessidade de menos aterros e, com isso, a valorização de mais áreas, e ambiental, pois a reutilização de um material se resume ao não consumo de mais matérias-primas. Para exemplificar o conceito acima, um edifício comercial em concreto de 10.000 m² de área construída gerará em torno de 900m3 de entulho. Caso a mesma descarte todo esse entulho para aterro, a obra gastará R$ 342.000,00. Caso esse entulho seja enviado para reciclagem, o custo será de R$270.000,00. Para o terceiro caso, suponha que a obra destine 1% de entulho sujo para aterro, 5% para reciclagem e consiga incorporar 3% do material no empreendimento. O custo final será de R$188.000,00, uma economia de 55% em relação ao primeiro caso.

As esferas social e ambiental nunca andaram tão próximas da econômica e a indústria da construção civil passará esses próximos anos por um novo divisor de águas, onde as empresas líderes do mercado deverão liderar essa nova tendência com soluções, inovações, melhorias e ideias ou então cederão seu espaço para os novos líderes.

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Consumo de Água na Construção Sustentável

Artigo de Eduardo Straub, engenheiro civil e proprietário da Straub, empresa que presta consultoria em sustentabilidade para Greenbuildings e toda a cadeia da construção civil

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Com 12% dos 3% de toda água doce disponível no planeta Terra, o Brasil se encontra numa posição bem privilegiada se comparado a tantos outros países. E isso não é para menos, além de seus enormes e longos rios, o Brasil conta com os dois maiores aquíferos do mundo: O aquífero Guarani, com seus 45 mil km3 de água doce abrangendo 8 estados e 4 países, e o aquífero Alter do Chão, com 86 mil km3 de água doce se estendendo por uma área de 437.500 km2 em 545 metros de espessura média. Só o aquífero Alter do Chão seria suficiente para abastecer por 100 vezes toda a população mundial.

Contudo, num país continental, não é fácil trazer toda essa água para os grandes centros urbanos. Segundo a SABESP, a região metropolitana de São Paulo tem seu sistema de abastecimento integrado por 8 complexos e é responsável em atender 39 municípios com a produção de 67 mil litros de água por segundo. Com esse volume de água sendo consumido quase instantaneamente e com a escassez de chuvas, é inevitável que haja racionamento. O sistema Alto Tietê opera hoje com 44,7% de sua capacidade, enquanto que o sistema Cantareira opera com 22,2%. O nível está tão baixo e a situação é tão crítica que a SABESP passou a responsabilidade de consumo para a população. Quem reduzir 20% do seu consumo de água, terá um abatimento de 30% na sua conta de água.

Dentro deste cenário, o US Green Building Council informa que a construção civil consome 21% de toda a água tratada do planeta e que 13,6% é de responsabilidade das edificações. No entanto, os edifícios verdes já vêm implementando certas estratégias economizadoras que podem chegar a 50% de redução no consumo de água potável.

Uma dessas estratégias está na utilização de vegetação nativa para as áreas de jardim. Além de promover a biodiversidade, a vegetação nativa está adaptada para sobreviver nas condições climáticas de seu local de origem. Ou seja, não é necessário irrigação. Porém, se o jardim não contar apenas com vegetação nativa, o sistema de irrigação por gotejamento com sensor de chuva reduz em até 70% o consumo de água.

Sistemas de coleta de água pluvial e de águas cinzas são ótimos para serem utilizados para fins não potáveis como descargas, lavagem de áreas externas e irrigação. No entanto, é necessário orientar as pessoas quanto ao seu uso restrito.

Para as áreas internas da edificação, utiliza-se o sistema dual flux para vasos sanitários, onde o consumo é de 3 litros de água para líquidos e 6 litros para sólidos. Com o sistema dual flux, a economia de água, em relação a sistemas tradicionais, chega a 60%. Para torneiras, utilizam-se arejadores e restritores e, dependendo do uso, podem ser instalados sensores de uso ou sistemas de pressão. Já os chuveiros são instalados com temporizadores, que liberam apenas a quantidade de água necessária para o banho e garantem uma economia de até 70% no consumo de água. Para quem acha ruim tomar banho com contagem regressiva, faz anos que o governo australiano orienta seus cidadãos a não ficarem embaixo do chuveiro por mais de 4 minutos. Quem desrespeita e tem um consumo excessivo recebe uma advertência do departamento de água pelo correio.

Outra estratégia é a instalação de medidores individualizados de consumo de água. Dessa forma, cada um paga pelo seu respectivo consumo e também facilita a identificação de possíveis vazamentos. A SABESP, em seu site, disponibiliza uma lista comparativa entre equipamentos convencionais e equipamentos economizadores.

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